terça-feira, dezembro 09, 2008

Vale.

Nasci no interior, sim senhor. Posso não ter aquele 'r' apertado nos molares, mas sim aquele que sai do meio da garganta: menos interior de São Paulo, mais fluminense. Mas nasci no interior de São Paulo, sim senhor. Bem no meio do Vale do Paraíba do Sul. Meio do caminho entre Campos do Jordão (quase o topo da Serra da Mantiqueira) e Caraguatatuba (aos pés da Serra do Mar).

Não tenho o hábito de ouvir viola, nem em moda, nem em seresta, mas não a nego, assim como não nego aos meus ouvidos o samba. Mas cresci nos anos 80, e o som com o qual cresci era titânico, paralâmico, errepeêmico... Sou roqueiro, brasileiro convicto, mas roqueiro. Ainda assim sou caipira do interior de São Paulo.

E se o azul me parece monótono, o vermelho também o é. O vermelho onde se planta café e cana. O azul onde o olhar fica no horizonte gigante. Onde nasci e cresci o horizonte não é plano. Também não é quebrado quadrado, os olhos não precisam passar por muitas janelas antes de o encontrar. A cidade não é pequena, mas no horizonte não tem prédio; tem morros, montanhas, tem serra pra todo lado. E o horizonte plano é monótono e divino, o quadrado é indigesto e masculino, mas quando é arredondada: é serra, é fêmea, atraente, provocante. Seduz pedindo para lhe subir, lhe ganhar e enxergar além, olhar mais para dentro; para fora é azul e monótono; para dentro é sinuosa, verde e viva; para além é vermelho e plano.

Onde nasci e cresci o desejo de ver além tem um significado especial. Porque além não é dentro do prédio da frente, nem é um horizonte plano e distante, é uma serra tangível, onde tem vida. Não as solitárias vidas encarceradas nas janelas dos horizontes quadrados, mas as cachoeiras, as árvores, as aves... a natureza canta quando penetramos a serra. E quando a encontramos gozamos a vida. Quando chegamos no topo tangível, descobrimos que existe tanta serra tangível que poderíamos passar a vida toda procurando ver além e toda ela.

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