quarta-feira, agosto 26, 2009

Viagem à certeza

Em uma viagem de negócios particulares o homem tenta se deter a paisagem. Campos, fábricas, casas, fábricas, campos e tudo se repete em duas horas e meia. Ficou difícil se concentrar na monotonia da estrada, e seu pensamento se ancorou novamente na busca de uma certeza.
Certeza, para ele, naquele momento era um estado de espírito, que buscava com desejo. Ele teria largado trabalho e família pela paz que traria novamente seu sono. Sua expressão negava sua inquietação, ele tinha nos olhos e na face a expressão de quem está prestes a sorrir. Nem alívio, nem nervosismo. Ele estava no encalço da certeza, isso o mantinha otimista. Em seu silêncio desenrolava um debate entre os pontos que não deixavam a certeza solidificar-se. Ele tinha coisas importantes a fazer, decisões fundamentais dependiam de fundação sólida feita em bases concretas, e não há nada concreto sobre o qual não há a certeza. Como um minerador, munido do conhecimento que tem de si e de sua vida, ele escava entre as obrigações, os desejos e as oportunidades. A certeza estava por ali, em algum lugar, e com sua picareta de sólido auto-conhecimento ele continua, e a cada golpe ele sente que está bem próxima sua jóia. O ônibus chegou ao seu destino. Ele entrou num prédio decadente e naquela sala menor do que deveria ser para abrigar tantos papéis e funcionários, dentro de sua mente se materializou uma bisnaga de explosivo. Era o conhecimento que faltava. Uma vez detonado, revelou a certeza.
No caminho de volta, sem o debate para lhe incomodar, caiu no sono.

Nenhum comentário: